quarta-feira, 27 de abril de 2011

Vazamento nuclear obriga evacuação em usina búlgara

27/04/2011 - 16h50
EFE

Um pequeno vazamento de gás radioativo na única usina nuclear da Bulgária, localizada na cidade de Kozloduy, obrigou a evacuação do edifício de um de seus dois reatores, embora segundo informou nesta quarta-feira a Agência de Regulação Nuclear (ARN) búlgara, não há nenhum perigo para a saúde da população.

O acidente ocorreu na terça-feira, dia em que foram completados 25 anos do desastre nuclear de Chernobil, na Ucrânia, mas a ARN só informou a respeito do incidente nesta quarta-feira em comunicado. Durante as obras no isolamento do reservatório primário do reator 5, ocorreu um vazamento de gás Xenon-133 que atingiu os limites máximos de segurança, mas não colocou em risco a exploração do reator, segundo o comunicado.

No entanto, a administração da central decidiu evacuar os funcionários temporariamente e submetê-los a testes de radiação. Nenhum dos empregados apresentou índices acima dos 0,05 milisievert, o valor estipulado pelas normas de segurança, indicou a ARN.

Além disso, a agência acrescentou que não foi detectado um aumento da radiação tanto na central como em seus arredores e informou que foi criada uma comissão especial para determinar as circunstâncias do acidente. Em Kozloduy, que entrou em funcionamento em 1970, só se mantêm em operação dois reatores (5 e 6) do tipo soviético BBEP-1000, depois que em 2007 a União Europeia (UE) colocou como condição para a entrada do país no bloco o fechamento dos outros quatro reatores.

O vazamento acontece depois que a imprensa búlgara publicou nesta quarta-feira documentos de 2006 divulgados pelo WikiLeaks nos quais os diplomatas americanos criticavam "a resistência das autoridades búlgaras a serem totalmente transparentes acerca dos problemas de segurança que afetam seus antigos reatores nucleares".

terça-feira, 26 de abril de 2011

Conheça a cidade construída para substituir Pripyat, perto de Chernobyl

26/04/2011

Slavutich foi erguida em dois anos para abrigar funcionários da usina. Ainda hoje, eles pegam trem diariamente para a zona do desastre nuclear.
Dennis Barbosa Do G1, em Slavutich
 
Há exatos 25 anos, o colapso do reator 4 de Chernobyl levou à retirada forçada de dezenas de milhares de pessoas do entorno da usina. Pripyat, maior núcleo urbano próximo dali, com quase 50 mil habitantes, foi totalmente esvaziada em questão de horas e os moradores nunca puderam retornar.

Assista acima à reportagem em vídeo

Logo após o acidente, o governo soviético decidiu construir uma nova cidade, chamada Slavutich, para abrigar parte os funcionários da usina, que continuou funcionando.
 
O núcleo urbano  fica perto de Chernobyl, mas fora do raio de 30 quilômetros da zona de exclusão da usina. Foi construído em apenas dois anos. Cada bloco de prédios foi erguido por uma diferente república soviética, num esforço conjunto para fazer frente ao maior desastre nuclear da história. É uma pacata cidade numa das regiões mais ermas da Ucrânia.
Trem dos funcionários da usina de Chernobyl chega a Slavutich. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Trem dos funcionários da usina de Chernobyl chega a Slavutich. (Foto: Dennis Barbosa/G1)

Diariamente, centenas de trabalhadores partem diariamente de trem de Slavutich para Chernobyl. Curiosamente, no trajeto, o trem sai da Ucrânia, passa por Belarus e volta a entrar em território ucraniano.
Os funcionários atuam no controle da radiação, na administração do que sobrou da usina. Apesar de já não produzir energia, o complexo é considerado uma planta em funcionamento, já que ainda guarda combustível nuclear.

A cada fim de tarde, o trem dos trabalhadores de Chernobyl chega em Slavutich. Um funcionário  ouvido pelo G1 conta que ainda há 3 mil pessoas trabalhando ali. Ele foi contratado já depois do acidente. Até 2000, ainda se produzia energia no complexo, que então tinha 12 mil pessoas.
Praça principal de Slavutich: sem muitas opções de trabalho. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Praça principal de Slavutich: sem muitas opções de trabalho. (Foto: Dennis Barbosa/G1)

Agora, com o fim das atividades, há cada vez menos empregados por lá. Isso é um problema, porque em Slavutich não há muita coisa para se fazer além de trabalhar na extinta usina. Os jovens da cidade acabam indo embora por falta de oportunidades.

A prefeitura luta para criar alternativas, como conta um funcionária à reportagem do G1, mas além da empresa de energia nuclear, a principal fonte de renda são as pensões do governo.

Testemunha do desastre

Valeriy Dmitriev é ex-engenheiro do departamento de segurança de Chernobyl. Ele foi exposto à radiação em 1986, mas não teve sequelas graves. Teve um leve problema de estômago, mas acredita que, por ter uma boa forma física na época, saiu praticamente ileso.


Homem limpa monumento em Chernobyl em homenagem aos bombeiros que perderam a vida tentando apagar o fogo nos primeiros instantes após a explosão do reator 4 em 9186.  (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Homem limpa monumento em Chernobyl em homenagem aos bombeiros que arriscaram suas vidas tentando apagar o fogo nos primeiros instantes após a explosão do reator 4 em 1986.
(Foto: Dennis Barbosa/G1)

"Quem bebia e fumava, levou a pior com a radiação", diz Dmitriev. Logo após o acidente, os chamados liquidadores, homens recrutados de todos os cantos da União Soviética para descontaminar a região, recebiam bebida alcoólica para suportar a tarefa ingrata.

O engenheiro aposentado conta que percebeu que quem bebia absorvia uma dose maior de radiação. Ele trabalhava diretamente na medição dos trabalhadores e garante que muitos dos que bebiam e se expunham à radiação morreram de cirrose.

Cada um dos liquidadores tinha um dosímetro, um contador individual de radiação. Em alguns casos, não chegavam a ficar nem um minuto trabalhando na zona do desastre. Mas muitos foram expostos a níveis excessivos e acabaram morrendo ou ficando com sequelas. No total, mais de 700 mil pessoas estiveram envolvidas na operação de contenção de Chernobyl e têm o status de liquidadores.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Chernobyl, 25 anos

25/04/2011

Na Ucrânia, turistas visitam área contaminada de acesso restrito. Reator que explodiu há 25 anos e cidade fantasma fazem parte do roteiro.

Dennis Barbosa Do G1
 
Ainda é cedo da manhã em Kiev, a capital da Ucrânia, quando o grupo de turistas começa a chegar. A excursão é para um lugar incomum: a chamada zona de exclusão de Chernobyl, palco do maior desastre nuclear da história, há exatos 25 anos. Trata-se de uma região isolada à qual só se pode ter acesso com autorização especial do governo.

O local ainda apresenta radioatividade, por isso cada um dos visitantes tem que assinar um termo isentando os organizadores de qualquer responsabilidade. A viagem até a entrada da zona de exclusão dura cerca de 2 horas. Na chegada, soldados checam a identidade de cada um, e a viagem pode prosseguir. A zona fica numa área remota no norte da Ucrânia, quase na fronteira com Belarus.

Quando aconteceu o acidente, em 1986, todas as pessoas num raio de 30 quilômetros foram retiradas. Anos mais tarde, algumas pessoas, chamadas de recolonizadores, ganharam o direito de voltar, sob sua própria responsabilidade.
Brinquedo abandonado na praça central de Pripyat. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Brinquedo abandonado na praça central de Pripyat. (Foto: Dennis Barbosa/G1)

Dois turistas finlandeses tiram fotos perto de uma placa que indica que se trata de uma zona de radioatividade. Eles dizem não ter medo de vir a um lugar como esse. "Moramos numa cidade próxima a uma usina nuclear, por isso ficamos interessados em vir aqui", conta um deles.

Imagem feita pelo fotógrafo da usina de Chernobyl, Anatoliy Rasskazov, poucas horas após a explosão no reator 4, mostra uma coluna de vapor radioativo saindo da instalação. O fotógrafo foi exposto a 12 vezes o máximo aceitável de radiação naquela época. Morreu no ano passado, após anos lutando contra o câncer e doenças sanguíneas. (Foto: AP) Imagem feita pelo fotógrafo da usina de Chernobyl, Anatoliy Rasskazov, poucas horas após a explosão no reator 4, mostra uma coluna de vapor radioativo saindo da instalação. O fotógrafo foi exposto a 12 vezes o máximo aceitável de radiação naquela época. Morreu no ano passado, após anos lutando contra o câncer e doenças sanguíneas. (Foto: AP)

Os participantes do passeio ganham contadores Geiger, medidores de ratioatividade, para registrar com as próprias mãos os índices de contaminação. Os organizadores garantem que a exposição à radiação  já não é perigosa se o visitante ficar pouco tempo.

Após um rápido almoço na cantina dos funcionários de Chernobyl, o grupo se dirige até o sarcófago, a estrutura de aço construída em torno do reator 4, que explodiu na madrugada de 26 de abril de 1986, durante um teste de queda de potência.

Os operadores queriam reduzir a capacidade do reator para um quarto de sua capacidade, para ver como se comportaria um gerador de emergência movido a diesel, mas ela baixou a menos de 1%.

Quando a potência foi aumentada, no entanto, ela subiu demais e o processo ficou fora de controle. Um incêndio com temperaturas de milhares de graus derreteu a cobertura da usina e material radioativo começou a se dispersar pela região. A nuvem alcançou lugares distantes na Rússia e na Europa Ocidental.

O analista de energia nuclear da organização Greenpeace Shawn Patrick Stencil diz que uma pesquisa independente estima que entre 60 mil e 90 mil pessoas morreram ou irão morrer por causa do desastre. Mas os números oficiais são bem menores, pois as mortes vêm acontecendo aos poucos, e em muitos casos não é possível associá-las diretamente com o acidente.
Mapa Chernobyl (Foto: Editoria de Arte/G1) (Foto: Editoria de Arte/G1) Sarcófago
Para evitar mais dispersão de material contaminante, foi construída uma estrutura de aço conhecida como sarcófago em volta do reator. Ela no entanto já apresenta desgaste e uma nova cobertura está em planejamento para guardar o material radioativo por mais 100 anos.

Pouco tempo após chegar na frente do sarcófago do reator 4, o grupo de turistas precisa sair. O tempo máximo de permanência no local é de 10 minutos.

Depois é hora de visitar Pripyat, a famosa cidade fantasma onde moravam trabalhadores da usina. Mas não sem uma surpresa no trajeto: o ônibus passa num local chamado de "caminho radioativo". O contador Geiger começa a apitar e a marcar números muito mais altos do que foram registrados até mesmo na frente do reator 4.

Ainda assim, a medição é milhões de vezes menor que a registrada perto da usina logo depois do acidente, em 1986. A contaminação da região pelo pó radioativo se deu de forma irregular, por isso há pontos com radiação mais baixa ou mais alta lado a lado.

Pripyat

 
Veja a foto em 360º em alta resolução

Enfim a excursão chega a Pripyat. A entrada na cidade se dá pela Avenida Lênin. O mato toma conta da praça principal e os edifícios estão caindo aos pedaços. No topo de um deles, a foice e o martelo lembram que esta já foi uma cidade modelo da União Soviética.

O guia da turma, Serguei, explica que a evacuação da cidade aconteceu em apenas duas horas. As pessoas foram avisadas de que deveriam deixar o local apenas com documentos e que voltariam quatro dias depois. Elas nunca mais regressaram.
Máscara de gás na sala de aula abandonada: tudo pronto para um eventual ataque. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Máscara de gás na sala de aula abandonada: tudo pronto para um eventual ataque. (Foto: Dennis Barbosa/G1)

Assim como o hotel, a piscina comunitária está arruinada. Tudo foi abandonado subitamente. Andar pelos edifícios de Pripyat não é das coisas mais tranquilas: há pedaços de forro caídos e água pingando por todos os lados.

O ideal seria não entrar em contato com a poeira na zona de exclusão. Mas num lugar em ruínas lugar como esse, isso é praticamente impossível.

Escola
Na escola número 2 de Pripyat, o material escolar está espalhado por todas as partes. "É incrível ver como como todo mundo saiu correndo, deixando tudo para trás. Parece que houve uma guerra", comenta espantada uma turista canadense.

Guerra não houve, mas se houvesse, os moradores de Pripyat estariam preparados. As máscaras de gás espalhadas pelo colégio, para um eventual ataque inimigo, provam isso. Em 1986, ainda estávamos em plena Guerra Fria.

Serguei, o guia, nota que esta era uma típica escola soviética. Ele lembra que também estudou numa escola assim. Entre outras matérias, as crianças tinham treinamento militar. Aprendíam por exemplo, a montar e desmontar um fuzil AK 47 a partir da 7ª série.

O parque de diversões com sua roda gigante e pista de carrinhos é uma das visões mais conhecidas da cidade. Pripyat tinha uma população jovem na época do acidente – a idade média dos quase 50 mil moradores era de 24 anos. Também havia muitas crianças.

A cidade fantasma é a última parada do passeio. Os visitantes ainda têm sua radiação medida antes de irem embora da zona de exclusão e, enfim, retornam para Kiev.
Roda gigante no parque de diversões de Pripyat: a cidade que em outros tempos tinha uma população jovem, ficou parada no tempo. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Roda gigante no parque de diversões de Pripyat: a cidade que em outros tempos tinha uma população jovem, ficou parada no tempo. (Foto: Dennis Barbosa/G1)

domingo, 24 de abril de 2011

Tepco faz primeiras medições detalhadas de radiação em usina

A Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina nuclear de Fukushima, realizou as primeiras medições detalhadas de radiação dentro da unidade, quase um mês e meio depois do devastador tsunami do dia 11 de março, informou neste domingo a agência local Kyodo.
Para isso, a empresa elaborou um mapa que mostra a radiação em 150 pontos em torno das unidades 1, 2, 3 e 4 da central, que os trabalhadores da Tepco tentam estabilizar depois que o tsunami danificou seu sistema de refrigeração.
 
O mapa, pensado para que os trabalhadores evitem áreas altamente contaminadas, é atualizado periodicamente e é enviado aos técnicos, ao Ministério de Indústria e à Agência de Segurança Nuclear do país.
 
As medições, com dados de quarta-feira passada pela noite, mostram um fragmento de entulho perto do reator 3 que registra uma radiação de 900 milisieverts por hora, segundo a Kyodo. Um trabalhador exposto a este nível de radioatividade alcançaria em apenas 17 minutos o máximo de 250 milisieverts estabelecido pelo governo como limite anual para os operários que trabalham em Fukushima.
 
Os técnicos acreditam que a peça contaminada seja resultado da explosão que aconteceu no dia 13 de março por causa da combustão de hidrogênio na unidade 3. O fragmento foi retirado com maquinaria manuseada por controle remoto e hospedada no interior de um contêiner especial com mais escombros.
 
Para evitar que os operários se exponham a altos níveis de radiação, a empresa usa este método para retirar os escombros.
 
Outra peça procedente do reator 3 registrava 300 milisieverts, enquanto a superfície de um encanamento utilizada para levar água contaminada da unidade 2 até um contêiner especial registrou entre 75 e 86 milisieverts, detalhou a Kyodo.
 
Até agora, 30 técnicos foram expostos a mais de 100 milisieverts, o limite anual habitual em situações de emergência nuclear, embora no caso de Fukushima o governo o tenha elevado a 250 perante a gravidade da situação.
 
Enquanto isso, continuam os esforços para esfriar os reatores 1, 2 e 3 da central e a piscina de combustível do 4, na qual a Tepco injetou neste sábado 140 toneladas de água que conseguiram diminuir a temperatura nesse recipiente de 86 para 66ºC.

Chefe de ação de emergência em Chernobyl defende energia nuclear

Milhares morrem nas estradas e mesmo assim todos usam carros, compara. Yuri Zelinski coordenou limpeza e construiu 'sarcófago' de usina em colapso.

Dennis Barbosa
Do G1, em Kiev
 
No dia seguinte à explosão do reator 4 da usina de Chernobyl, há 25 anos, o engenheiro Yuri Zelinksi, que então trabalhava numa fábrica de equipamento de proteção para funcionários de instalações nucleares, foi chamado pelo governo soviético para ajudar a coordenar os trabalhos de contenção do desastre em território ucraniano.
Nos primeiros 20 dias, como conta, ele chefiou os "liquidadores", milhares de homens chamados para fazer a "limpeza pesada" - juntar o material radioativo, evitando que se espalhasse ainda mais. Depois, passou a organizar a construção do "sarcófago", uma imensa caixa de aço e concreto erguida às pressas para guardar o reator em colapso e seu combustível nuclear.

Yuri Zelinksi dá entrevista em seu escritório em Kiev: apesar de ter vivido o maior desastre nuclear da história, ele defende o uso de energia nuclear. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
Yuri Zelinksi dá entrevista em seu escritório em Kiev: apesar de ter vivido o maior desastre nuclear da história, ele defende o uso de energia nuclear. (Foto: Dennis Barbosa/G1)
 
Apesar de ter vivido de perto o maior desastre nuclear da história, Zelinski defende com veemência o uso de energia atômica. "Todo dia, mil pessoas morrem nas estradas. Mas carros ainda são produzidos e todo mundo usa. Os aviões caem, mas as pessoas voam", compara. "Cada pessoa que diz que devemos desativar as usinas nucleares deveria parar de usar energia elétrica", defende.

Zelinski trabalha na construção do 'sarcófago',  em maio de 1986, menos de um mês após o acidente. (Foto: Reprodução)
Zelinski trabalha na construção do 'sarcófago', em maio de 1986, menos de um mês após o  cidente. (Foto: Reprodução)

A visão polêmica que ele tem do episódio e do uso da energia nuclear não para por aí. Ele defende que a União Soviética agiu da forma mais rápida possível e fez o melhor na remoção da população que vivia nas imediações de Chernobyl. Lembra que o acidente aconteceu na madrugada de um sábado (26 de abril de 1986), e que já no domingo Pripyat, uma cidade próxima de 48 mil habitantes, foi esvaziada.

Zelinski rebate as críticas de falta de transparência contra a URSS. O fato de que o líder soviético Mikhail Gorbachov demorou mais de duas semanas para falar do acidente na TV, se deve a que as esferas superiores do regime não entendiam a gravidade do acidente, diz.

"A informação ia dos engenheiros aos diretores, daí para os ministérios e para o governo. No fim dessa escada, a informação não era vista de forma séria", explica. Isso não impediu, no entanto, segundo ele, que a população local fosse rapidamente retirada.

Japão
O construtor do "sarcófago" conta que acompanha diariamente as notícias sobre Fukushima, no Japão, e acredita que o nível de transparência em relação ao que é passado ao público é similar ao de Chernobyl. "Se Fukushima fosse uma questão de governo, não privada, a situação teria sido resolvida mais rapidamente. A companhia privada deixa de fazer o que precisa e o governo é que precisa agir", critica.
Para retirar os moradores da zona de exclusão de 30 quilômetros em volta de Chernobyl, em 1986, os militares soviéticos disseram que era algo apenas temporário, mas os habitantes nunca puderam retornar a suas casas. "A situação no Japão deverá ser igual", diz.

Sangue filtrado
O engenheiro, que hoje chefia uma empresa que desenvolve ultracapacitores (dispositivos de acumulação de energia com capacidade muito superior à de baterias convencionais) não passou ileso pela época do desastre.

Nos primeiros meses, segundo Zelinski, ele trabalhou continuamente na zona de exclusão. Depois, trabalhava durante 3 a cada 10 dias. "Era perigoso ir tão frequentemente, mas não podia passar o trabalho a outro, porque não conseguiria passar as informações necessárias a alguém que me substituísse", explica.

Toda vez que ia para a usina, jogava suas roupas fora. Depois era lavado e tinha a sua radioatividade medida.

Zelinski lembra que muita gente que trabalhou com ele morreu por causa da exposição à radiação e que ele próprio, a certa altura, teve diagnosticada uma imunidade muito baixa. Ele precisou, então, ter todo o seu sangue filtrado para tirar os metais pesados. "O sangue saía de um braço e entrava em outro", conta. O tratamento permitiu que se recuperasse.

O acidente nuclear de Chernobyl completa 25 anos nesta terça-feira (26). Até lá, o G1 publicará uma série de reportagens sobre o desastre.

Na foto de cima, Zelinski, à direita, recebe representante do Instituto Científico de Energia Atômica da URSS. Na foto de baixo, ele aparece perto das obras do sarcófago (3º da esquerda para a direita). (Foto: Reprodução)
Na foto de cima, Zelinski, à direita, recebe representante do Instituto Científico de Energia Atômica da URSS. Na foto de baixo, ele aparece perto das obras do sarcófago (3º da esquerda para a direita). (Foto: Reprodução)

sábado, 23 de abril de 2011

Trabalhadores de Fukushima são expostos a altos índices de radiação

Trinta funcionários registraram níveis superiores ao permitido; Tepco promete assistência

23 de abril de 2011
 
AP

Protesto contra energia nuclear em frente à sede da Tepco. (Kim Kyung-Hoon/Reuters)

MINAMISANRIKU - Trinta trabalhadores da usina nuclear de Fukushima se expuseram a níveis de radiação superiores ao limite estabelecido antes da crise, informou neste sábado, 23, a empresa Tokyo Electric Power Co (Tepco).

O limite, de cem milisieverts ao ano, foi elevado para 250 milisieverts durante a crise nuclear que começou com o terremoto, em março. Nenhum dos trabalhadores, no entanto, alcançou esse novo limite de radiação, segundo a empresa responsável pela usina.

Os vazamentos dos reatores de Fukushima já conseguiram ser estabilizados, mas alguns espaços internos da usina, que foram danificados pelo terremoto e pela tsunami, continuam com altos índices radiação, impossibilitando a entrada de funcionários.

Algumas centenas de trabalhadores efetuaram com dificuldades seus trabalhos em turnos rotativos na usina desde que aconteceu o desastre. A maioria deles são empregados da Tepco ou de empresas afiliadas e possuem idade mediana.

A tsunami avariou o fornecimento elétrico e os sistemas de refrigeração da usina nuclear. Os trabalhadores tiveram dificuldades para conter o vazamento de material radioativo. A empresa responsável por Fukushima afirma que poderá levar um ano inteiro para que retomem o controle total da usina.

O porta-voz da Tepco, Junichi Matsumoto, afirmou que os administradores receberam a instrução de prestarem muita atenção aos funcionários que cheguem perto ao limite de radiação tolerado. Algumas medidas a favor dos trabalhadores poderiam incluir: dispensá-los das tarefas mais perigosas, como o registro de resíduos radioativos, e realocá-los para trabalhos internos, como os administrativos.

Nos Estados Unidos, o limite de exposição à radiação é de 50 milisieverts por ano para trabalhadores de indústrias nucleares. Um indivíduo comum absorve seis milisieverts por ano de fontes naturais e artificiais, como os exames de raio X. Segundo estudiosos, está comprovado que doses acumuladas de 500 milisieverts aumentam o perigo de as pessoas desenvolverem câncer.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Governador de Fukushima diz que usina nuclear não vai reabrir

Presidente da Tepco, que opera a central, pediu desculpas aos japoneses. Governador pediu compensação para agricultores, pescadores e empresas.


Da EFE
 
O governador de Fukushima, Yuhei Sato, disse ao presidente da Tokyo Power Electric Company (Tepco), Masataka Shimizu, que não permitirá que a usina nuclear Fukushima Daiichi volte a funcionar, informou nesta sexta-feira (22) a agência local “Kyodo”.

Foi a primeira reunião entre os dois desde o início da crise nuclear, depois de Sato ter rejeitado duas vezes nas últimas semanas se encontrar com o presidente da Tepco, que opera a central atômica afetada pelos desastres naturais de 11 de março.

No final de março, a companhia informou que fecharia quatro dos seis reatores da usina, sem especificar quais eram seus planos para os outros dois reatores restantes.

Na reunião desta sexta, o governador de Fukushima exigiu também que a concessionária compense economicamente não apenas agricultores e pescadores prejudicados pela radioatividade emitida pela central, mas também as fábricas e as empresas do setor turístico.

Além disso, Sato pediu a Shimizu que melhore as condições de trabalho dos técnicos que tentam estabilizar os reatores danificados.

O responsável pela Tepco pediu desculpas pela situação de emergência e pelos problemascriados aos habitantes de Fukushima.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Japão anuncia zona de exclusão legal em torno da usina de Fukushima

Tóquio, 21 abr (EFE).-

O Governo do Japão decidiu proibir legalmente a entrada de pessoas no raio de 20 quilômetros ao redor da usina nuclear de Fukushima Daiichi, informou nesta quinta-feira o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, durante visita à zona.

 
Segundo Kan, citado pela agência local "Kyodo", a proibição entrará em vigor à 0h de quinta para sexta-feira.

Até agora, a Administração japonesa recomendava que os moradores da zona evacuassem a área devido ao aumento dos níveis de radiação, mas não exigia isso legalmente.

Entenda o acidente nuclear no Japão


Algumas pessoas, principalmente idosos, ainda permanecem no local, enquanto outros evacuados entram e saem da área de exclusão para reaver seus pertences, informou a emissora "NHK".

Apesar da proibição, o Governo japonês concederá uma permissão especial de entrada de duas horas a um membro de cada família para recuperar seus pertences, precisou o porta-voz do Executivo, Yukio Edano.
As únicas pessoas que não poderão obter esta permissão serão os evacuados em um raio de menos de três quilômetros ao redor da central, acrescentou Edano.

Naoto Kan viajou nesta quinta-feira à província de Fukushima para visitar os evacuados que se encontram nas cidades de Koriyama e Tamura e reunir-se com o governador Yuhei Sato.

Cerca de 80 mil pessoas viviam no raio de 20 quilômetros em torno da central antes do terremoto e do posterior tsunami de 11 de março que danificou seriamente o sistema de resfriamento da usina nuclear.

A Tokyo Electric Power Company (Tepco), empresa operadora da central, anunciou no domingo que prevê devolver o resfriamento estável aos reatores de Fukushima em três meses e levá-los ao estado de "parada fria" em um prazo entre seis e nove meses.

O Governo indicou que, uma vez controlada a central, revisará os perímetros de evacuação, que até o momento afetam todas as localidades em um raio de 20 quilômetros e algumas situadas até 40 quilômetros.


Nível de radiação a que estamos expostos e seus efeitos

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Japão estuda criar zona de exclusão em torno da usina de Fukushima

Tóquio, 20 abr (EFE).-

O Governo do Japão estuda emitir uma ordem para proibir a passagem em um raio de 20 quilômetros em torno da usina de Fukushima, epicentro da crise nuclear gerada pelo terremoto e o posterior tsunami de 11 de março.

O porta-voz do Governo, Yukio Edano, indicou nesta quarta-feira que o Executivo japonês considera esta possibilidade depois que em meados de março declarou a área como zona de evacuação diante da alta do nível de radioatividade, indicou a agência local "Kyodo".

Apesar das evacuações, alguns moradores ainda permanecem na área, em sua maioria idosos que resistem a abandonar seus lares, segundo testemunhos de jornalistas locais que visitaram o local.

Além disso, a imprensa japonesa informou que para impedir a passagem às cercanias da central há apenas barreiras na estrada que podem ser facilmente evitadas pelos veículos.

"Houve gente que entrou na área de evacuação, portanto, para prevenir isto de um modo efetivo, avaliamos com as autoridades locais transformá-la legalmente em uma área de exclusão", disse Edano em entrevista coletiva.

Poucos dias depois do início da crise nuclear, as autoridades ordenaram a evacuação das pessoas no raio de 20 quilômetros em torno da central, ao tempo que houve a recomendação para que os moradores da faixa entre 20 e 30 quilômetros ficassem trancados em casa ou abandonassem a região.

Em 11 de abril, o Governo anunciou a decisão de ampliar, no prazo de um mês, as zonas de evacuação em função da radioatividade detectada em diferentes localidades, uma medida que afetará cidades como Iitate, a 40 quilômetros da usina.

A Tokyo Electric Power Company (Tepco), empresa operadora da central, anunciou no domingo que prevê devolver o resfriamento estável aos reatores de Fukushima em três meses e levá-los ao estado de "parada fria" em um prazo entre seis e nove meses.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Detectada elevada radioatividade nos reatores 1 e 3 de Fukushima

DA EFE, EM TÓQUIO
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A Agência de Segurança Nuclear do Japão indicou nesta segunda-feira que foram detectados elevados níveis de radioatividade nos prédios que abrigam os reatores 1 e 3 da usina nuclear de Fukushima, o que impede os técnicos de entrarem no local.

Segundo informou a agência Kyodo, no domingo (17) dois robôs manuseados por controle remoto mediram os níveis de radiação e outros parâmetros no interior dos prédios de ambos os reatores, cujo sistema de refrigeração, junto com o da unidade 2, ficou seriamente danificado pelo terremoto seguido de tsunami do último dia 11 de março.

As medições mostraram que no reator número 1 a radiação alcançava entre 10 e 49 milisievert por hora, e no 3 entre 28 e 57 milisievert por hora, indicou a Kyodo.

Segundo a rede NHK, na sexta-feira o nível mais alto de radiação detectado na entrada dos edifícios era de 2 a 4 milisievert por hora.

A agência de energia nuclear do Japão declarou que os testes mais recentes mostraram que a radiação quase duplicou na semana passada no mar da cidade de Minamisoma, próximo da usina, chegando a 23 vezes acima dos limites legais.

Uma série de fortes réplicas do tremor sacudiu o leste do país, e as retiradas temporárias de trabalhadores e períodos de falta de energia atrasaram o esforço de recuperação na usina de Fukushima Daiichi.

ESTABILIZAÇÃO

No domingo a Tokyo Electric Power (Tepco), a empresa operadora da central, indicou que espera levar os três reatores com problemas ao estado de "parada fria", sem emitir vazamentos radioativos, em um prazo de seis a nove meses.

O plano estabelece uma primeira etapa, de três meses, na qual os reatores nucleares e as piscinas de combustível usado poderão ser esfriados.

"Calculamos que serão necessários três meses para que o nível de radiação comece a baixar", explicou Tsunehisa Katsumata, presidente da Tepco.

A empresa japonesa também prevê cobrir os prédios dos três reatores danificados em um período de entre seis e nove meses. Este também é o prazo, segundo o ministro do Comércio e Indústria, Banri Kaieda, para que o governo revise a área de evacuação em torno da central.

No momento, o governo decretou uma zona de exclusão de 20 km ao redor da central, mas pediu que a população abandonasse também a zona num raio de 30 km. Cerca de 80.000 pessoas foram evacuadas e o consumo de alimentos nos arredores foi proibido.

Katsumata pediu perdão pela crise provocada pelo acidente nuclear em Fukushima, e disse que sua empresa está tentando "evitar que piore" a situação. As autoridades pressionam a Tepco há vários dias para que a empresa apresentasse um calendário preciso.

A Tepco espera ter pronto no verão (hemisfério norte) um novo sistema para refrigerar os reatores 1, 2 e 3, os que sofreram o acidente, e drenar ao mesmo tempo água contaminada.

Trata-se de um novo sistema de refrigeração que filtrará a água contaminada e a voltará a lançar a essas unidades uma vez limpa, para evitar que se acumule água radioativa nos edifícios dos reatores, como ocorreu até agora.

NÍVEL DO DESASTRE

Dados divulgados na semana passada mostraram que vazou muito mais radiação da usina de Fukushima nos primeiros dias da crise do que se suspeitava, o que levou as autoridades a classificá-la no mesmo nível do desastre de Tchernobil --embora ressaltem que a quantidade de radiação vazada ainda é de apenas 105 da tragédia na Ucrânia.

A Agência de Energia Nuclear do Japão declarou que os testes mais recentes mostraram que a radiação quase duplicou nas últimas semanas no mar da cidade de Minamisoma, próximo da usina, chegando a 23 vezes acima dos limites legais.

Temores de contaminação têm surgido entre os vizinhos do Japão, mas a China disse que o impacto em seu território foi pequeno, observando que a radiação foi somente 1% do que recebeu de Tchernobil.

O saldo do desastre vem aumentando. Mais de 13 mil mortes já foram confirmadas. O custo total da catástrofe, por sua vez, foi estimado em US$ 300 bilhões, tornando-a o desastre natural mais caro da história.

domingo, 17 de abril de 2011

Tepco admite que tardará entre seis y nueve meses en controlar la central de Fukushima

La eléctrica admite que su prioridad es evitar nuevas explosiones de hidrógeno.- El plan no da fecha para el regreso de los evacuados

El Pais
RAFAEL MÉNDEZ, Tokio (Enviado especial)
17/04/2011

La eléctrica propietaria de la central de Fukushima, Tokyo Electric Power (Tepco), ha anunciado el calendario que maneja para controlar la crisis en la planta nuclear. En una rueda de prensa, sus máximos ejecutivos han presentado un plan en fases que llevará entre seis y nueve meses hasta dar por acabada la crisis. Según los responsables de Fukushima, la prioridad actual es evitar más explosiones de hidrógeno, las que destrozaron tres reactores los primeros días tras el terremoto y el posterior tsunami del 11 de marzo.
El pasado 12 de abril, el primer ministro japonés, Naoto Kan, pidió a Tepco un calendario sobre la crisis. El plan tiene dos fases, reducir la emisión de radiación y luego llevar la central a parada fría. La primera tardará tres meses, y la segunda se calcula que llevará entre tres y seis meses más. El presidente de la compañía, Tsunehisa Katsumata, ha pedido perdón a los desplazados por el accidente nuclear, y ha añadido que estaban diseñando una cubierta para tapar los reactores dañados y preparando sistemas para almacenar el agua radiactiva. Aún así, ha dejado claro que la prioridad actual es evitar una nueva explosión de hidrógeno.

La empresa Tepco ha añadido que no puede decir si después de esos seis o nueve meses los miles de evacuados podrán volver a casa. "Esa es una decisión que corresponde al Gobierno", ha señalado Katsumata. Los expertos apuntan a que la zona más próxima a la central deberá permanecer cerrada durante años. La semana pasada, la Agencia de Seguridad Nuclear de Japón elevó la calificación del desastre de Fukushima a un 7 en la escala de sucesos nucleares (en una gradación de 0 a 7), lo que le sitúa a la altura de Chernóbil.

Apoyo estadounidense
El anuncio de la eléctrica coincide con la visita de Hillary Clinton a Japón, donde ha prometido un "apoyo firme" de Estados Unidos a la reconstrucción. La secretaria de Estado de EE UU, que se ha reunido con el primer ministro japonés, Naoto Kan, y el ministro de Exteriores, Takeaki Matsumoto, ha calificado la situación de Fukushima como "una crisis multidimensional de un alcance sin precedentes", según la agencia local Kyodo.

"He venido a Japón con un mensaje de solidaridad y esperanza compartida de parte de la población de Estados Unidos", ha dicho Clinton en conferencia de prensa. La jefa de la diplomacia estadounidense considera que la reconstrucción de la costa noreste de Japón, devastada por el tsunami, debe aunar implicación de los sectores público y privado de ambos países, informa Efe. El seísmo y las olas gigantes que le siguieron han causado casi 14.000 muertos y otros 14.000 desaparecidos.

Durante los primeros días de la crisis, EE UU movilizó a 20.000 de los cerca de 50.000 militares que tiene en Japón para las tareas de rescate, además de 160 aviones y 20 buques.

Estabilização completa deve levar entre 6 e 9 meses. Anúncio foi feito neste domingo (17) pelo presidente da Tepco.

Do G1, com agências internacionais*
 
A empresa japonesa Tokyo Electric Power (Tepco) informou neste domingo (17) que os reatores danificados da usina nuclear de Fukushima e as piscinas de combustível nuclear serão resfriados em um prazo de três meses, apesar de sua estabilização completa levar entre seis e nove meses. O complexo foi danificado após o terremoto de 11 de março de 2011.

O presidente de honra da companhia, Tsunehisa Katsumata, apresentou seu plano para encerrar a crise na unidade, cujos reatores ficaram sem sistema de refrigeração por causa do devastador tsunami, que seguiu ao terremoto, deixando mais de 13 mil mortos no Japão.

O plano estabelece dois períodos, um primeiro de três meses no qual os reatores nucleares e as piscinas de combustível usado poderão ser esfriados. Em uma segunda etapa, de entre seis e nove meses, os reatores
erão estabilizados totalmente, de acordo com a Tepco.
(*) Com informações das agências de notícias Efe e France Presse

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Japão diz que 28 trabalhadores de Fukushima receberam radiação alta

15/04/2011

Dose acumulada é o dobro do aceitável em 5 anos. Mais de 90% dos trabalhadores não acumularam radiação alta.


Da Reuters
O Japão informou à Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) que 28 trabalhadores receberam doses elevadas de radiação durante os esforços para estabilizar a usina atômica de Fukushima Daiichi, parcialmente destruída pelo terremoto seguido de tsunami em março.

Das mais de 300 pessoas no local, 28 acumularam doses superiores a 100 millisieverts (mSv), disse a AIEA, citando dados das autoridades japonesas.

'Nenhum trabalhador recebeu uma dose acima de 250 mSv, valor de referência do Japão para restringir a exposição de funcionários de emergência', disse a AIEA na sexta-feira.

A dose média para um funcionário de usina nuclear é de 50 mSv ao longo de cinco anos.

No mês passado, dois trabalhadores da usina de Fukushima foram hospitalizados porque seus pés foram expostos a 170 a 180 mSv, quando eles pisaram em água contaminada. Os dois se recuperaram.
O desastre de Fukushima é o pior no mundo desde o de Chernobyl, há 25 anos, e as autoridades japonesas o colocam no grau mais severo numa escala reconhecida internacionalmente.

Mas, ao contrário do que aconteceu em Chernobyl (Ucrânia), ninguém parece ter morrido por causa da exposição radiativa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Energia: O desastre de Fukushima não deve decretar o sepultamento da opção nuclear.

Valor Econômico
12/04/2011


"Energia Nuclear - Do Anátema ao Diálogo"
José Eli da Veiga (org.). Senac/SP. 131 págs., R$ 35,00
Bloomberg

Efeitos do terremoto na usina de Fukushima não diminuem o otimismo de José Eli da Veiga quanto à energia nuclear

Enquanto o acidente na usina nuclear de Fukushima muda o curso de investimentos em energia e gera fervorosos protestos mundo afora, vozes dissonantes surgem na contramão, para mostrar que há um lado positivo em meio às incertezas do episódio. Na corrente dos que defendem cautela nas críticas está o economista José Eli da Veiga, organizador de "Energia Nuclear - do Anátema ao Diálogo". Ele engrossa o coro de que participa o ambientalista e escritor inglês George Monbiot, ferrenho opositor convertido publicamente à energia nuclear. "A crise no Japão foi a gota d'água para tornar-me favorável às usinas", afirma Veiga, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). Seu argumento está livre de paixões: "Apesar de um terremoto tão grave, a central nuclear acidentada, tecnologicamente atrasada e mal planejada, não sofreu impactos devastadores, o que justifica o otimismo quanto às usinas modernas, muito mais seguras".

Antes de mergulhar no tema do livro, que chega às livrarias em tempos de preocupação com as manchetes vindas da Ásia, Veiga acumulava dúvidas. "Estava literalmente em cima do muro", admite. No passado, por receio dos riscos ambientais, sua posição era contrária às usinas, "mesmo não sendo ambientalista ou ter 'abraçado' Angra II nos protestos do Greenpeace". De uns anos para cá, sua visão mudou. Após aprofundar estudos sobre a economia de baixo carbono e o aquecimento global, ele passou a abordar a questão sob um foco diferente. "Enquanto não acontece uma revolução na matriz energética, a alternativa nuclear deve ser tratada como um caminho para a redução de gases do efeito estufa, principalmente em países dependentes em larga escala do carvão", explica Veiga, dedicado a escrever sobre economia socioambiental e sustentabilidade desde quando esses termos ainda não existiam.

As dúvidas o inspiraram para o desafio do novo livro, estruturado na controvérsia de pontos de vista, a partir de uma coletânea de ensaios assinados por estudiosos. De um lado, está Leonan dos Santos Guimarães, assistente da presidência da Eletronuclear S.A, operadora das usinas brasileiras. Em defesa da fonte atômica, ele apresenta dados e diferentes cenários com o propósito de desmistificar a opção nuclear, justificando sua importância para a redução de dióxido de carbono e para o desenvolvimento econômico do país, como complemento estratégico à energia das hidrelétricas.

Até 2050, diz ele, a população mundial aumentará de 6,6 bilhões para 9 bilhões de habitantes e em poucas décadas a energia consumida superará o total até hoje utilizado pela humanidade. A busca por fontes limpas, segundo Guimarães, é primordial para o controle da poluição e dos danos à saúde, que também significam custos financeiros e sociais elevados. "Apesar dos benefícios, convicções contra a energia nuclear ainda podem ser encontradas em especulação de jornalistas e burocratas com interesses na área ambiental e no estranho caso da Alemanha, cuja política partidária continua presa a uma ideologia antinuclear antiquada."

No outro lado do debate proposto pelo livro, como contrapeso crítico, está o físico José Goldemberg, da USP, reconhecido internacionalmente por diversos trabalhos científicos e livros sobre energia nuclear. Ele rebate quem defende os reatores, com o o argumento de que o potencial hídrico brasileiro não justifica os altos investimentos em usinas nucleares, cada vez mais caras, por causa dos requisitos de eficiência e, principalmente, segurança. Além do risco da operação, há questões não resolvidas, como o destino do lixo nuclear. De acordo com Goldemberg, considerando-se somente os reatores das usinas, a energia atômica não emite gases do efeito estufa. No entanto, emissões existem quando se analisa toda a cadeia da atividade, desde a extração do urânio pela mineração.

Goldemberg acredita que a opção nuclear não deverá expandir-se pelos países em desenvolvimento, por diversos motivos, como o alto custo, e defende prioridade para o investimento em fontes renováveis, a exemplo da solar e eólica. Em sua opinião, a retomada da energia nuclear no rastro do controle climático tende a colocar no esquecimento tragédias como Chernobyl e o acidente como césio-137 em Goiânia.
Silêncio interrompido nas últimas semanas, quando o assunto voltou aos jornais com o terremoto que atingiu os reatores no Japão. Para Veiga, que não havia muito tempo destrinchara as nuances da controvérsia nuclear, a notícia caiu como uma bomba uma semana antes do lançamento do livro.

Poucos dias depois, quando descansava em uma praia no Sul da Bahia, o autor acessou pela internet as informações sobre os "50 mortos-vivos" -- os homens que arriscavam a vida na tentativa de controlar a usina e evitar o vazamento da radiação em altos níveis para o ambiente. "O pânico não se justifica quando analisamos friamente as estatísticas", alega Veiga. O economista cita relatórios que revelaram um impacto em Chernobyl bastante inferior ao inicialmente alardeado - informações com potencial de fazer ambientalistas mudarem de lado, como aconteceu em diversos casos relatados no livro.

A lição do atual acidente na usina japonesa, segundo o autor, não deveria resultar em medidas restritivas ou condenação sumária da energia nuclear. "Seja qual for o ponto de vista, a fragilidade que o episódio expôs, e que muito preocupa, é a falta de governança e transparência", adverte Veiga. Em entrevista há cinco anos, o ex-prefeito de Fukushima, Eisaku Sato, já questionava as dificuldades de acesso a informações junto à Tokyo Eletric Power Company, proprietária da usina acidentada. "O problema se repete no Brasil, onde a política energética, alvo de lobbies, não é participativa e projetos nucleares são mantidos como segredos de Estado", conclui Veiga

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Japão expande área de isolamento ao redor de complexo nuclear

Medida é lançada após tremor de 6,6 atingir região leste do país, um mês depois de tremor seguido de tsunami

iG São Paulo
11 de abril de 2011



O Japão expandiu nesta segunda-feira a zona de isolamento ao redor do complexo nuclear danificado pelo terremoto e o tsunami do mês passado devido ao alto nível de radiação acumulada, depois que uma série de réplicas do tremor voltou a sacudir a região leste do país.

O governo anunciou que estava incentivando pessoas a deixar suas residências em certas áreas além do raio de isolamento de 20 quilômetros da usina. Crianças, mulheres grávidas e pacientes hospitalares devem ficar além de um raio de 30 quilômetros de distância da usina nuclear. "Esses novos planos de retirada têm como finalidade garantir a segurança diante dos riscos de viver lá por seis meses ou um ano", disse a repórteres o secretário-geral do gabinete do governo, Yukio Edano.

A réplica de magnitude 6,6 que atingiu a região nesta segunda-feira, exatamente um mês após o terremoto de intensidade 9 seguido de tsunami, não causou até agora danos sérios nas cinco centrais nucleares no nordeste japonês, incluindo a usina danificada de Fukushima Daiichi.

O governo ordenou também que as operadoras das usinas nucleares adotem até 28 de abril novas medidas de segurança que se somarão àquelas impostas no mês passado, e que em breve serão verificadas pelas autoridades para confirmar sua implementação.

A ordem veio depois que uma réplica de magnitude 7,4 na quinta-feira passada, a maior desde o terremoto devastador de 11 de março, interrompeu temporariamente as três linhas de força que fornecem energia à usina de Higashidori , operada pela Tohoku Electric Power Co's, que estava desligada para manutenção de praxe desde fevereiro.

No sábado, a Agência de Segurança Nuclear e Industrial (NISA na sigla em inglês) ordenou que as administradoras de usinas nucleares instalem pelo menos dois motores a diesel de emergência até mesmo em reatores fora de operação e mantidos em temperaturas baixas, como a usina de Higashidori.
A operadora da usina de Fukushima Daiichi informou que parou de lançar no mar água com baixo nível de radiação, encerrando uma medida emergencial que ameaçava contaminar os vizinhos China e Coreia do Sul.
A Tokyo Electric Power Co. (Tepco), que opera o complexo nuclear, disse que 10,4 mil toneladas de água com baixa radiação, deixadas no interior do complexo pelo tsunami, foram devolvidas ao mar com o objetivo de abrir espaço na usina para armazenar água com altos níveis radioativos.

11 de março

Também nesta segunda-feira, autoridades japonesas disseram estudar elevar de 5 para 7 o nível de gravidade da crise nuclear na usina de Fukushima, igualando-a ao acidente de 1986 no reator de Chernobyl.

De acordo com a agência de notícias Kyodo, a Comissão de Segurança Nuclear do governo estima que a quantidade de material radioativo que vazou dos reatores de Fukushima chegou ao máximo de 10 mil terabequerels (TBq) por hora em um determinado ponto por diversas horas, o que classificaria o incidente como um grande acidente, de acordo com a escala internacional de intensidade.
*Com Reuters

Usinas nucleares: o impasse alemão




Por Aracy

Da Deutsche Welle

Enquanto as principais companhias energéticas alemãs fazem pressão sobre governo em Berlim devido à política atômica, Siemens desfaz parceria nuclear com franceses. 

Em reação à moratória nuclear defendida pela coalizão de governo em Berlim, as quatro grandes fornecedoras de energia elétrica na Alemanha, RWE, Eon, Vattenfall e EnBW, mandaram um recado ao governo alemão e anunciaram neste fim de semana a suspensão de seus pagamentos para um fundo bilionário de fomento às fontes renováveis.

As empresas justificaram a decisão através da vinculação dos pagamentos ao prolongamento da vida útil das usinas nucleares alemãs, determinado em 2010. A Vattenfall afirmou que os pagamentos estariam "suspensos temporariamente". Um porta-voz da RWE disse que a empresa iria transferir suas prestações mensais "para uma conta especial até o esclarecimento da moratória". E a EnBW declarou: "isso é uma consequência lógica da moratória".
 
Após a catástrofe no Japão, o governo alemão determinou uma moratória nuclear até meados de junho e desligou, temporariamente, as sete usinas mais antigas da rede. Até lá, a segurança das instalações deverá ser avaliada e então será decidido que usinas poderão ser reativadas.

O governo em Berlim reagiu com tranquilidade ao anúncio das operadoras. Uma porta-voz oficial afirmou que o governo irá avaliar as consequências financeiras da moratória do tempo de funcionamento. "Maior clareza sobre o assunto virá somente com o novo direcionamento da política energética", explicou a porta-voz, acrescentando que esse novo direcionamento "pode levar, se for o caso, a uma mudança do acordo com as companhias fornecedoras".
Reações de políticos

O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, afirmou que o governo em Berlim deve cancelar, rapidamente, o prolongamento da vida útil das usinas nucleares do país. Os partidos do governo devem "dizer claramente: nós corrigimos nossas decisões, tomadas no final do ano passado", afirmou o político democrata-cristão em entrevista à revista Super Illu publicada neste domingo (10/04).

Röttgen disse que o que estaria em jogo seria a credibilidade da política energética. A mudança de curso por parte do governo após a catástrofe no Japão deve ser expressada claramente e "também executada realmente". Os acordos encaminhados pelo governo Merkel no ano passado estipulam que a vida útil das 17 usinas nucleares alemãs seja prolongada, em média, em 12 anos, em relação a uma lei aprovada pelo governo anterior, do chanceler Gerhard Schröder, prevendo o desligamento paulatino de todas as usinas nucleares alemãs até 2021.

O fundo de fomento às energias renováveis foi implementado no final de 2010 em correlação com o prolongamento da vida útil das usinas nucleares. Uma parte dos lucros adicionais com essa prorrogação deveria ser transferida para o fundo. Neste ano, as companhias energéticas deveriam pagar 300 milhões de euros. No total, esperava-se uma receita de 16,9 bilhões de euros para o fundo.

O Partido Verde alemão criticou a suspensão do pagamento das quatro grandes empresas energéticas para o fundo de energias renováveis como uma "falta de vergonha". Volker Beck, diretor parlamentar da bancada verde, disse ao site Handelsblatt Online que a medida "seria, infelizmente, também o reconhecimento do trabalho desleixado feito durante a campanha pela prorrogação da vida útil através do parlamento alemão ".
Mudança de curso

Como consequência da catástrofe nuclear no Japão, a Siemens, por outro lado, anunciou a desejada separação da companhia estatal francesa Areva. Um porta-voz da empresa alemã confirmou neste domingo que já em 18 de março último a Areva havia transferido o pagamento de 1,62 bilhão de euros fixado por um perito por 34% das ações da firma Areva NP, que agora pertence exclusivamente aos franceses.

O acidente na usina japonesa levou a empresa de Munique a reavaliar negócios com a energia nuclear. O ceticismo cresce entre os executivos da Siemens, apesar de há não muito tempo o presidente da empresa, Peter Löscher, ter demonstrado grandes esperanças na energia atômica. Devido à crescente demanda energética em todo o mundo, Löscher tinha grandes planos com negócios de fornecimento para usinas nucleares.

"Nosso objetivo conjunto é ser líder mundial do mercado de energia nuclear", disse Löscher há dois anos, após a assinatura de uma declaração de intenções com a empresa nuclear russa Rosatom. Segundo a declaração, ambas as partes planejam construir novas usinas nucleares e modernizar antigas centrais, através de uma empresa comum.

Na próxima semana, Löscher irá visitar a Rússia, juntamente com o governador da Baviera, Horst Seehofer. Nesta segunda-feira, eles se encontram com o ministro russo da Energia, Serguei Chmatko. Ele deverá estar atento ao que Löscher irá lhe dizer. Já há alguns dias, especula-se que a Siemens também cogita abandonar o planejado projeto com a Rosatom.

domingo, 10 de abril de 2011

Em meio a crise nuclear, Tóquio tem protesto contra energia atômica

10/04/2011 09h37

Manifestantes pediram o fechamendo das usinas nucleares do país. Um mês após tremor e tsunami, planta de Fukushima ainda oferece risco.

Do G1, com agências internacionais
Cerca de 2 mil pessoas protestaram neste domingo (11) em Tóquio contra as usinas nucleares ao grito de "Não precisamos de Fukushima" em referência à crise atômica gerada pelo terremoto e pelo tsunami de 11 de março no Japão.

Os manifestantes se dividiram por diversas áreas da capital japonesa, entre elas a sede de Tokyo Electric Power (TEPCO), operadora da usina nuclear de Fukushima Daiichi, que ainda tem sérios problemas em quatro de seus seis reatores e emite radiação.

As 2 mil pessoas foram convocadas por oito associações antinucleares para pedir o fechamento de todas as centrais nucleares do Japão.

A catástrofe, que nesta segunda-feira completa um mês, destruiu os geradores de energia que refrigeravam os reatores de Fukushima, o que provocou várias explosões e a emissão de radioatividade.
Levantamento divulgado neste domingo pelo jornal japonês 'Asahi' mostra que mais da metade dos mortos pelo tsunami já identificados eram idosos.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Energia nuclear no Brasil pós-Fukushima

TENDÊNCIAS/DEBATES - Folha de SãoPaulo
ILDO SAUER

É natural que países sem recursos energéticos lancem mão da opção nuclear, mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia

Após duas décadas de hibernação dos planos nucleares, no final do governo anterior foram anunciadas a conclusão de Angra 3 e mais quatro usinas, possivelmente às margens do rio São Francisco. A previsão de investimento é da ordem de R$ 8 bilhões por unidade, atingindo R$ 40 bilhões para a instalação de 6.800 MW.

O país dispõe de capacidade tecnológica, de recursos humanos e de conjunto de recursos naturais para expandir a oferta de energia elétrica, em dados aproximados: 150 mil MW de potencial hidráulico remanescente, em adição aos 100 mil MW já desenvolvidos e em desenvolvimento; 143 mil MW eólicos; 15 mil MW de biomassa, mormente bagaço de cana; 17 mil MW em pequenas centrais hidrelétricas; 10 mil MW em cogeração e geração descentralizada por gás natural.

Isso tudo sem as possibilidades decorrentes da repotenciação e da modernização de usinas antigas e dos programas de racionalização do uso de energia. A energia eólica vem apresentando uma curva de aprendizado tecnológico notável, no mundo e no Brasil, conforme demonstrado pelas contratações recentes, com custos declinantes, já competitivos com a opção nuclear.

A própria opção fotovoltaica, conectada à rede de distribuição, tende a repetir o sucesso da eólica. Várias combinações entre esses recursos são possíveis para suprir a energia disponibilizada pela alternativa nuclear proposta, todas elas com custos de cerca da metade da opção nuclear, economizando mais de R$ 20 bilhões em investimentos para o mesmo benefício energético.

O desenvolvimento de 70% da capacidade hidráulica e de 50% do potencial eólico permitiria gerar anualmente cerca de 1,4 bilhão de MWh de fontes inteiramente renováveis, produção superior ao 1,1 bilhão de MWh requerido para atender a demanda brasileira prevista para a década de 2040, considerando uma duplicação do consumo per capita anual, para 5 MWh (semelhante ao padrão atual de Itália e Espanha), quando, segundo o IBGE, a população se estabilizará em torno de 220 milhões.

Há uma tendência natural de complementaridade das disponibilidades energéticas entre os ciclos hídrico e eólico. Além disso, eventual complementação com usinas térmicas, com suprimento flexível de combustível para operação em períodos hidroeólicos críticos, permitiria aumentar a confiabilidade e reduzir os custos.
É natural que países destituídos de recursos energéticos, como Japão, Coreia, França, ou mesmo Índia e China, lancem mão da opção nuclear como principal alternativa. Mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia.

A construção de usinas nucleares, por si só, não garante avanços significativos no domínio da tecnologia nuclear. A consolidação de nossa capacidade nuclear, inclusive para geração elétrica, depende de planejamento, projeto, desenvolvimento e construção de reatores, especialmente de pesquisa, no país. Há dois projetos para tanto.

O primeiro é o reator experimental de 50 MW, de iniciativa da Marinha, projetado e cujos equipamentos foram construídos e estão estocados há 20 anos. Ele deveria, finalmente, ser montado e operado, podendo testar tecnologia de convecção natural, base da segurança passiva, capaz de garantir o resfriamento do núcleo mesmo na ausência de energia elétrica.

Outro é o reator de alto fluxo de nêutrons, para teste de materiais, apoio a pesquisa em agricultura, biologia e medicina e produção de radioisótopos, caros e em falta.

O investimento estimado para os dois projetos é de cerca de R$ 1 bilhão, 5% dos custos economizados com o cancelamento do plano atual de geração nuclear e sua substituição por outras fontes, renováveis, sustentáveis e sem deixar como herança carga radioativa a exigir cuidados das gerações futuras.

ILDO SAUER, doutor em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA), é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e diretor de energia da Fiesp. Foi gerente do projeto do Circuito Primário do Reator Nuclear da Marinha (1986-1989).

terça-feira, 5 de abril de 2011

Agência Internacional diz que energia nuclear terá que mudar

Renata Giraldi - Agência Brasil
04 de abril de 2011

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, disse hoje que a abordagem sobre o uso e a segurança da energia nuclear deve sofrer alterações, depois dos acidentes registrados no Japão, na Usina Nuclear de Fukushima Daiichi.

O assunto é tema da reunião para discutir a Convenção sobre Segurança Nuclear, que começou nesta segunda-feira e vai até o dia 14, em Viena, na Áustria. "Não podemos voltar a uma abordagem rotineira", afirmou Amano. O diretor-geral afirmou que, depois dos episódios no Japão, o comportamento do mundo mudou e as pessoas passaram a ter medo da contaminação por radiação.


Convenção sobre Segurança Nuclear
Depois do terremoto seguido por um tsunami, no nordeste do Japão, foram feitas várias operações na tentativa de conter as explosões e vazamentos nucleares registrados em Fukushima Daiichi.
Porém, a empresa que administra a usina reconheceu que está com dificuldades para controlar o vazamento de água contaminada por radiação que segue em direção ao mar.

A Convenção sobre Segurança Nuclear, que foi ratificada por 72 países e entrou em vigor em outubro de 1996, tem o objetivo de melhorar a segurança na exploração dos reatores eletronucleares.
A cada três anos, os peritos se reúnem para analisar os relatórios enviados por todos os que ratificaram o documento.

A convenção é um instrumento de incentivo e não estabelece a obrigação de adesão. Os acidentes no Japão foram relembrados hoje durante as discussões, quando a AIEA mostrou relatórios informando sobre as danificações registradas nos reatores, o vazamento de água contaminada e as ameaças de explosões.

Contaminações

A agência informou ainda que há relatos de amostras com as presenças de iodo 131, césio 134 e césio 137, mas que as autoridades afirmaram que os percentuais estavam abaixo do considerado arriscado. No entanto, houve registros de contaminação em vegetais marinhos, frutas, peixes, leite e verduras da região.

As cidades que estão em alerta são Chiba, Fukushima, Gunma, Ibaraki, Kanagawa, Quioto, Niigata, Saitama, Shizuoka, Tchigi, Tochigi e Tóquio. Por segurança, a área localizada no raio de 20 quilômetros ao redor de Fukushima Daiichi foi esvaziada.

Para acompanhar os trabalhos dos especialistas no Japão, a AIEA enviou dois peritos em tecnologia. As informações são da AIEA e da agência pública de notícias de Portugal, a Lusa.

Água de usina nuclear pode contaminar peixes e frutos do mar

Ingestão de alimentos radioativos causa náuseas, prejudica a medula e provoca infertilidade

Bruno Folli, iG São Paulo
05 de abril de 2010

Peixes e frutos do mar estão ameaçados pela radioatividade em torno da usina nuclear de Fukushima, no Japão, e podem contaminar quem os ingerir. Por conta disso, especialistas recomendam consumir apenas peixes de procedência conhecida.

A situação deve ficar ainda pior, agora que a usina planeja despejar 11 mil toneladas de água radioativa no oceano Pacífico.

A Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina, argumenta que não há alternativa. O espaço ocupado pela água contaminada seria necessário para armazenar outro estoque de água, que inunda os reatores 1, 2 e 3 e dificulta o trabalho de resfriamento deles.

A água que deve ser despejada no mar é cem vezes mais radioativa do que o permitido, contudo ainda é bem menos contaminada que o estoque dos reatores ameaçados.

“Os átomos afetados são capazes de contaminar peixes e frutos do mar. Se ingeridos, esses alimentos se tornarão fontes de radioatividade no corpo”, afirma Antônio Carlos Fontes dos Santos, professor do laboratório de colisões atômicas e moleculares da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O tamanho do estrago vai depender do nível de contaminação do peixe. Pequenas doses de radiação causam náuseas seguidas de vômito e também afetam o sistema digestivo.

“As alterações digestivas são frequentes porque esse tecido é muito sensível”, afirma Artur Malzyner, oncologista dos hospitais Albert Einstein e Edmundo Vasconcelos.

Se a contaminação for maior, a medula óssea pode ser atingida. Ela é muito vulnerável à radiação e pode causar anemia, afetando todo o sistema imunológico. “Os tecidos do aparelho reprodutor também são sensíveis, a pessoa pode se tornar estéril”, alerta o médico.

Caso a ingestão de peixes contaminados continue, outros órgãos podem ser afetados. A tireoide, glândula na região do pescoço, corre o risco de desenvolver tumores malignos. Pulmões também serão atingidos. Por último, o sistema nervoso.
 
A contaminação por radioatividade, a partir dos níveis mais elevados, pode ser fatal. “As opções de tratamento são apenas contra os sintomas, para evitar que a pessoa com vômito e náuseas fique fraca demais e corra risco de morrer, por exemplo”, conta o oncologista.

Também é preciso usar iodo, entre outros recursos, para evitar que a pessoa contaminada transmita radioatividade e contamine mais pessoas. “Existem técnicas experimentais usadas para isolar o efeito da radiação. Elas estão sendo testadas na radioterapia para, por exemplo, proteger o sistema nervoso em tratamentos contra tumor na faringe. Mas o proveito disso seria pequeno no âmbito de uma tragédia ambiental”, avalia.

Não adianta fritar
Se o peixe estiver contaminado, não adianta fritar ou cozinhar, radioatividade é algo mais complicado. A solução é descartar o alimento. Peixes contaminados têm o mesmo aspecto de peixes saudáveis. Para detectar a contaminação é preciso usar um detector Geiger, que capta a emissão de radiação.

Além disso, é possível que a contaminação se espalhe para regiões distantes do Japão. Isso pode acontecer por causa da cadeia alimentar presente no oceano somado à migração dos animais. Ou seja, peixes contaminados podem ser ingeridos por outros peixes maiores, que cumpram jornadas longas de migração e se reproduzam em áreas distantes da costa japonesa.

O Brasil não importa uma quantidade relevante de peixe do Japão – apenas 30% do pescado consumido aqui vem de outros países e a maior parte desse total vem do Chile, da Noruega e da Argentina. Ainda assim, especialialistas recomendam comprar apenas peixes de procedência conhecida, mesmo em restaurantes.

Indenizações de usina nuclear irritam japoneses retirados da área

05/04/2011

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Com indeniações de cerca de US$ 11 (R$ 17), a Tokyo Eletric Power Company (Tepco), empresa que opera a usina nuclear de Fukushima, no Japão, irritou os moradores que tiveram de ser retirados, e algumas prefeituras locais chegaram a rejeitar os recursos oferecidos.

Muitos vilarejos locais anunciaram que devem rejeitar a doação de cerca de 20 milhões de ienes (US$ 237 mil), que dividida pelo número de moradores retirados atinge quantias ínfimas de menos de R$ 20.
Uma porta-voz da cidade de Namie declarou que a oferta da Tepco foi rejeitada, o que permite que a municipalidade e a população possam criticar livremente a sociedade.

"A população local supera os 20 mil habitantes, o que faria com que cada residente recebesse menos de 1.000 ienes (cerca de R$ 17) cada um. Isso não ajuda os flagelados", argumentou.
Cerca de 80 mil pessoas residentes num perímetro de 20 km em torno da central acidentada pelo terremoto e tsunami de 11 de março se viram obrigadas a abandonar a região, deixando tudo para trás.

Além disso, muitos agricultores da província de Fukushima tiveram que suspender a comercialização de verduras e de leite devido ao índice elevado de radioatividade após o desastre nuclear.

O ministro da Indústria japonês, Banri Kaieda, declarou nesta terça-feira que ordenou à Tepco se prepare para pagar indenizações às populações mais atingidas.

Segundo a agência de notícias Kyodo, a sociedade deve calcular com o governo as enormes indenizações que deverá pagar às empresas, agricultores e pescadores prejudicados pelo acidente nuclear.