sexta-feira, 25 de março de 2011

Na tragédia nuclear, a segunda vítima é a informação

No país em que as pessoas fizeram da câmera de filmar uma extensão do olho, o terremoto seguido de tsunami foi, à primeira vista, exposto de forma ampla, geral e irrestrita: casas, estradas, aviões, barcos, carros, árvores, tudo desceu, água abaixo, nas telas do mundo.

Num olhar mais atento, contudo, nas impressionantes cenas havia de tudo, menos gente. Uma das raras pessoas a aparecer no meio do caos foi essa da imagem abaixo: pano branco à mão na segurança provisória de uma casa ilhada.

Não se trata de mostrar a morte ao vivo. No atentado terrorista do 11 de setembro, agências de notícias e emissoras de televisão optaram por não disseminar nem exibir imagens de pessoas desesperadas nos andares mais altos, fugindo do fogo num salto para o vazio. Seus corpos, estendidos ao chão, não ampliariam o drama humano, nem dariam sentido diferente ao terror dos atentados. O drama foi exaustivamente contado pelos parentes das vítimas, pela história dos bombeiros arrastados pelo desabamento, pelos sobreviventes.

Mas a escassa presença de gente nas imagens do tsunami,aliada às desencontradas informações sobre a extensão do acidente nuclear na planta de Fukushima, indica um jeito muito particular dos japoneses lidarem com suas tragédias. No caso do tsunami a omissão significa respeito aos que não conseguiram escapar a tempo. Mas o vazamento nuclear não pode merecer o mesmo tratamento. Nesse caso, omissão é irresponsabilidade.

Se governos estrangeiros indicam que a situação é pior que a informada oficialmente, as autoridades japonesas deveriam, no mínimo, abrir suas instalações para uma comissão independente dirimir a dúvida. Com o tempo, a história de Fukushima será contada em sua verdadeira magnitude. Mas se na guerra, a primeira vítima é a verdade (porque a mentira das autoridades vem antes dos embates armados), na tragédia nuclear japonesa ela é a segunda, imediatamente depois das vidas perdidas no maior terremoto da história do país.

Autor: Luciano Suassuna

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